07 abril 2004

A Morte de Sócrates

Sentem que lá vem a história... todos sentados, prestando atenção no Tiu? Pois lá vai.

Sempre fui tímido. Falar em público sempre foi uma exibição de gaguejos e reticências e "aaahhhhnnnn" do tipo que quieu falo agora mesmo. Apresentar os trabalhinhos na escola na frente da turma sempre era um desespero e além do conteúdo mal decorado, ainda tinha o papel com a "cola" tremendo na minha mão. Uma tristeza.

Entrando na faculdade eu comecei a me soltar mais. Já não apresentava os seminários com tanta timidez e as vezes até fazia o serviço com algum desembaraço. Até que chegando ao segundo período, na aula de Teoria da Arquitetura, o assunto era a Arquitetura Grega. Pois bem, a professora em conjunto com o professor de Expressão no Urbanismo propôs uma peça de teatro, onde nós iríamos fazer os cenários e atuar na peça, com um tema grego, mais especificamente, o julgamento e morte de Sócrates. Apesar de tímido, eu sempre li bem em voz alta, e minha voz de alguma forma é boa para falar em público, apesar de quem me conhece saber que eu falo bem baixo em uma conversa. Enfim, após muito relutar, dizer que não queria, que eu ia esquecer o texto, que eu ia estragar a peça e outras coisas desastrosas, acabei sendo o escolhido para o papel do futuro-finado-Socrates. Pois bem...

Nas semanas seguintes, toda a turma trabalhou nos cenários, tivemos aquelas aulas de expressão corporal, alguma coisa muito básica de interpretação e tal... e nada de eu decorar o maldito texto.

No dia da apresentação, pela manhã, eu fui prum canto da faculdade e fiquei estudando as falas com uma amiga. Depois de um tempo, o texto fluia naturalmente, sem gaguejos, sem pausas pra pensar, sem erros. Eu sabia até o texto do outro personagem. Estava afiadíssimo.

Mas como nada é perfeito nesse mundo, na hora foi um desastre. Eu lá vestido com uma Toga de lençol de cama branco, na frente dum bando de gente que eu conhecia e não conhecia, tive um pequeno travamento. O texto não saia, eu não lembrava o que falar, a voz falhava de vez em quando... enfim, foi praticamente uma tragédia grega.

Portanto, se você, querido leitor, pensar algum dia em fazer uma peça teatral amadora, e cogitar a possibilidade de me chamar, esqueça. Traumas que não passam não devem ser cutucados e eu não quero estragar uma outra peça teatral. Apesar de todos dizerem que ficou muito bom e que nem notaram que eu engoli umas linhas do texto.

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