09 maio 2005

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Na rodoviária de Taubaté havia um carinha estranho, careca de óculos e com umas roupas arrumadas porém não combinando muito. Era estranho.

Na fila pra entrar no ônibus, encrencou que o bilhetinho que colam na bagagem de mão dele sumiu. Na verdade, o bilhetinho que deveria ficar com ele pra comprovar que a bagagem era realmente dele quando saísse do ônibus. * Pois bem... procura daqui, procura dali, olha bilhete, confere número, e ele já tinha guardado o dito cujo, e só lembrou depois.

Nessa confusão do bilhete, eu furei a fila e subi. Sentei na minha poltrona bonitinha, na janela, lado esquerdo do onibus. Botei minha mala no bagageiro interno, a bolsa no chão, e fiquei lá, tranquilão. Justamente na hora que eu termino de me arrumar, lá vem o esquisitão e senta do meu lado, não sem antes quase cair por cima de outro passageiro e deixar a mala dele no meio do corredor pra alguém tropeçar. Enfim, sentou.

No meio da viagem, eu encostado, quase dormindo, ouço uns ruídos. O cara estava grunhindo alguma coisa. Não consegui entender palavra nenhuma, olhei pra ele de canto de olho, e ele tava com os olhos meio arregalados, parecia até que tava em transe. Comecei a ficar assustado.

Fiquei lá o mais imóvel possível, ora dormindo, ora fingindo que estava dormindo. Cotovelo apoiado no braço da cadeira, e o carinha ficava empurrando meu cotovelo pra apoiar o dele. Eu cheguei primeiro, ora bolas, ele que fique sem apoio. E firmei meu terreno lá, destemido. O resto da viagem ele continuou empurrando.

Mais pra frente, mudei a posição dos pés... pouco tempo depois, senti uma leve pressão na lateral do meu pé. ISSO! adivinharam, ele estava empurrando o meu pé para o meu lado. Afinal de contas, que história é essa de ocupar o espaço dele? Não pode, ora bolas. Por fim, depois de teimar um pquinho, e fingindo que estava dormindo, cedi e tirei o pé dali. A posição nem estava confortável mesmo...

Em outro ponto da viagem, o onibus parou para o lanche. Enquanto o onibus entrava no estacionamento, ele ficava fazendo gestos muito estranhos, girando os pulsos e esticando os cotovelos. Fora o olhar de desesperado pra sair do onibus. Mal o onibus parou e ele era o primeirão lá da fila pra descer... carregou a mala com ele pra fora do onibus e depois voltou com ela.

Um pouco mais a frente, eu acordo (sim... eu dormi bastante) com ele murmurando algumas coisas... olho pro lado e vejo o cara com um terço na mão, rezando. Nesse momento, passaram duas coisas pela minha cabeça.

1- Ele é um terrorista que vai explodir o onibus na hora que chegarmos na rodoviária, e as bombas estão na bolsa que ele cuida com tanto zelo, mas achei improvável por causa do terço. Na minha concepção, se ele tivesse com uma edição em árabe do alcorão eu teria bem mais desconfiança dessa hipótese.

2- Ele é um terrorista que vai explodir o onibus na hora que chegarmos na rodoviária, e as bombas estão na bolsa que ele cuida com tanto zelo, e no primeiro murmuro estava recitando algum trecho decorado do alcorão e a parte do terço foi encenação pra confundir a minha cabeça. Dessa não tive muitas desconfianças.

Continuei de olho nele, até chegar na rodoviária Novo Rio. Ele, novamente, foi um dos primeiros a descer. Eu esperei um pouco, pra ver se explodia algo. Não explodiu e saí do onibus e fui direto pra saída e pro ponto de onibus pra Niterói.

Não nego que cheguei em casa e liguei a televisão na globo pra ver se ouvia aquela musiquinha de plantão... Mas não ouvi. Ele deve ter descansado hoje e provavelmente vai explodir algo amanhã... acho que vou ficar em casa o dia inteiro. Boa desculpa pra não ir trabalhar...

* Nota do Autor: Ninguem confere esses bilhetinhos, ninguem liga pra isso, normalmente os bilhetinhos caem da mala bem antes de chegar no destino final.

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