05 dezembro 2006

O Clímax

Era uma vez... preciso de um personagem... O Jânio. Pronto, já tenho um personagem, mas o que ele faz? Jânio vende cosméticos? Não. Isso é um thriller policial, se Jânio vender cosméticos ele vai ter a masculinidade afetada e não será o machão herói da história. Mas vender cosméticos é uma boa, é diferente, não existem muitos personagens que vendem cosméticos e se chamam Jânio. Na verdade, não me lembro de nenhum Jânio, além do ex-presidente. Será então um romance, e ele não precisa ser machão herói, então pode vender cosméticos. Sim, ele vende cosméticos porque trabalhava antes em uma farmácia. Jânio era farmacêutico mas foi despedido porque paquerou uma cliente quarentona. Vender cosméticos era um passo natural.

Pronto. Já tenho um personagem, uma relação amorosa e não tenho conflito nenhum. Uma boa história precisa de conflitos, problemas para serem solucionados, um climax. Jânio paquerou uma cliente quarentona casada com duas filhas. Isso! Começou a vender cosméticos porque a quarentona precisava de creminhos para as rugas que começavam a surgir. Bom. Muito bom. Já tenho um motivo para explicar os cosméticos. Vamos criar um conflito agora.

Ele era vendedor de porta em porta, e todas as semanas ia na casa da quarentona. Em um dia de sol, acho que na primavera, sim, na primavera é legal, o céu estava azul e o clima agradável, sem ameaças de chuva e nem estava aquele calorão. Então, na primavera teve um dia que ele foi até a casa da quarentona vender um novo creme anti-rugas feito com produtos da Amazônia. Se bem que produtos de beleza feitos a partir de ervas da amazônia já está batido. Poderia ser algo feito da secreção de algum bicho nojento. Lulas são nojentas. Lulas tem secreção? Se não tiver na segunda edição eu mudo o nome do bicho. E lá foi Jânio vender o creme de secreção de lula para a quarentona.

Apertou a campainha, esperou atenderem e quando a porta se abriu, estava em sua frente a filha da quarentona, com pouca roupa e muito corpo, alí parada na sua frente. Acho que a filha deveria ter um nome. Mas que se dane, a quarentona não tem nome até agora, pra que a filha vai ter? Vou começar a usar letra maiúscula em Quarentona e mais tarde resolvo a questão do nome da filha. E a filha olhou pra ele com cara de quem-é-você e Jânio, coitado, ficou alí parado com a cara de besta que só ele conseguia fazer. Opa! olha o conflito aí! Jânio se apaixona pela filha da Quarentona, que não dá a mínima bola para o ex-farmaceutico. Quando a Quarentona chega na sala e vê a cara de besta de Jânio, entende tudo. Mas porque a Quarentona chegou na sala se ninguém foi chama-la? Ela não é curiosa e é preguiçosa o suficiente pra não descer do quarto para ver quem era. Ou melhor ainda, ela nem estava em casa. Isso. A filha da Quarentona avisa que a mãe não estava em casa. Hora do Climax, que eu tenho que olhar no dicionário para ver se tem acento.

Jânio, para não perder a viagem, oferece creminhos para a jovem senhorita, oferecendo amostras e até se dispondo a aplica-los. Los ou las? Aplicar as amostras, ou os creminhos. O que você preferir. No fim das contas, Jânio se insinua demais para a filha da Quarentona, que a essa hora definitivamente deveria ter um nome ou ter o uso de letras maiúsculas também. Se bem que é melhor assim. Ninguém se chama Filha da Quarentona, então fica tudo minúsculo mesmo. Menos a Quarentona, que já ficou estipulado lá em cima que fica maiúsculo. A menina, fica mais fácil assim, menina, ao invês de filha da Quarentona que é muito comprido e cria um monte de problemas, cede aos encantos do ex-farmaceutico cosmetólogo, essa palavra eu inventei agora, e cai nos braços dele.

Pronto. Tenho personagens, tenho conflitos, tenho um climax arrumadinho, pronto pra ser escrito. Mas está meio óbvio demais esse climax. Todo mundo sabe o que vai acontecer agora. Não estou satisfeito. Alguma coisa tem que mudar. Mas o personagem é esse mesmo, é paquerador, se apaixonou pela Quarentona e depois pela filha dela. Tanto a Quarentona quanto a filha são moças voluptuosas e que gostam um pouco além do normal de homens. Tudo leva para esse caminho. Não tem outra possibilidade de climax. A Quarentona não estava em casa, ela é casada e tem duas filhas. Eu não tenho escolha.

Ahh quer saber. Não gosto de histórias em que todo mundo já imagina o clímax antes de acontecer. Não gostei. Não vou escrever mais nada. Imagina o seu clímax aí que eu vou comer um pão com mortadela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário